Sempre quando assisto a filmes americanos na Netflix, eu fico refletindo sobre a contaminação que o consumismo americano tem sobre nós brasileiros. Talvez essa influência tenha relação com o poder de compra que adquirimos ao longo dos anos.
Quem experimentou o período de super inflação no Brasil na década de 90 até hoje vive o reflexo de tempos de muita escassez. Muitas famílias ainda compram e estocam produtos em casa com medo de que dias ruins cheguem. Ou achando que estão economizando ao comprar em quantidade e que os preços podem, subir repentinamente.
Será que precisamos de tanto assim para viver?
Quero abrir aqui um diálogo sobre como ter uma vida confortável, vivendo com muito menos e ainda assim ser muito feliz com isso.
Mas antes disso, quero te fazer refletir sobre como o seu estilo de vida atual e a forma como você tem encarado alguns gastos podem retratar o aumento da sua pobreza.
Três Maneiras de Reduzir os Seus Custos Mensais:
1 – Supermercado
Eu fui a um hipermercado na extrema zona norte de São Paulo certa vez, e que é muito conhecido por ser muito lotado.
Eu resolvi passar na frente dos mais de cem (100!) caixas observando quanto cada pessoa e/ou família estava gastando naquele momento. Eu fiquei tão horrorizada que a imagem ainda permanece vívida em minha mente. O ticket médio daqueles caixas ultrapassava os mil reais!
Até hoje não consigo me imaginar fazendo uma compra mensal de R$ 1.500,00, mesmo porque:
- eu não tenho família para sustentar e,
- acredito que no final das contas, esse não será o único gasto com alimentação para essas pessoas durante todo mês e,
- eu não tenho esse dinheiro todo para gastar com alimentação.
Supermercado é um tópico sensível no seu orçamento, já que você precisa sobreviver e para isso precisa se alimentar. Fazer uma única compra no mês, definitivamente, não é uma boa ideia.
Depois de anos observando preços em diferentes supermercados, pude observar como o preço aumenta em épocas de pagamento. Sim, os supermercados sabem que é no início de mês que muitas famílias adoram abastecer suas despensas.
Destinar um orçamento semanal para as suas compras é a melhor solução. Isso significa que, se você tem um orçamento mensal de R$400,00 para o item supermercado / feira, você vai gastar em média R$100,00 por semana.
Você pode até determinar um período do mês para fazer compras básicas para o mês todo, como produtos de limpeza e higiene. Mas no restante do mês a sua organização deve ser semanal e se possível em mais de um estabelecimento.
Gosto de frequentar feiras locais em horários de finalização (a famosa chepa) e também de observar produtos em promoção em institutos e feiras de orgânicos. Mas ao mesmo tempo sempre frequentei regularmente o supermercado próximo de casa observando promoções.
Outro hábito inteligente que pode ser adotado mesmo antes de sair as compras é saber o que você tem casa.
Quantas vezes compramos coisas que, ao chegar em casa já tinha na despensa? Muitas pessoas pregam que fazer listas de compras é o melhor a se fazer quando falamos em compras de supermercado, mas eu discordo em partes.
Se você souber o que tem na despensa, vai deixar de fazer compras por obrigação e começará a frequentar o mercado observando que tipo de alimento da promoção poderia combinar com o que já tem em casa.
Claro que isso é uma atividade que exige criatividade, mas assim como tudo que fazemos é um hábito. Comer é um ritual sagrado e escolher os melhores alimentos para a compra de forma consciente também o é.
Então a minha lista de compras é mais ou menos a seguinte:
- Café da manhã da semana
- Proteína da semana
- Legumes e frutas da semana
- Em falta na despensa: sabão de coco e vinagre, etc.
No exemplo acima, sabendo que eu não bebo leite e que como bem pouco iogurte, compraria ovos, bacon e café (prefiro o descafeinado), incluiria chás se não tivesse mais em casa, olharia a carne com o melhor preço da semana e a que tem a cara melhor.
Escolheria frutas por unidade, talvez uma banana por dia, um ou dois abacates, duas maçãs. Escolheria temperos e deixaria para comprar as folhas na feira.
Daria uma volta nas prateleiras para saber de alguma eventual promoção, talvez o azeite com preço melhor, a manteiga ou até mesmo os queijos. Após rápidos cálculos pagaria no caixa em dinheiro e voltaria para casa satisfeita.
Já cheguei a cronometrar minhas idas ao supermercado e o tempo médio é de uma hora e meia hora na feira, nada mal não é mesmo?
Outro ponto que vale destacar é resistir muito às promoções. Não é porque a banana está mais barato que você tem que comprar duas duzias. Oras, você não vai comer tudo.
E se não for um produto perecível, estocar em casa não vale o sacrifício de sair do orçamento. Compre somente o que vai comer ou que está dentro da sua dieta ou melhor, somente o que precisa.
2 – Comer Fora
A comida alheia é sempre mais gostosa do que a nossa, não é mesmo? Fora que é muito mais fácil simplesmente pedir o que deseja no restaurante do que fazer em casa. Pois saiba que comer fora pode, de longe, ser o maior vilão do seu orçamento.
Quem mora em grandes cidades sabe o quanto a vida é corrida e como a oferta de restaurantes incríveis podem nos confortar de certa forma. Eu mesmo já paguei faturas enormes em razão do meu consumo desenfreado desse item.
Organizar a comida da semana é uma forma de não precisar comer fora. Sim, pode dar um pouco de trabalho (não disse que seria fácil), mas ser organizado dá uma enorme satisfação pessoal. Utilize o seu final de tarde de domingo para fazer as sopas da semana, deixar o café da manhã organizado.
E quando digo organizado me refiro a:
- Frutas lavadas e higienizadas e cortadas, já separadas em pequenas vasilhas para cada dia da semana (conheço uma pessoa que já deixava a mexerica descascada).
- Saladas lavadas e higienizadas e cortadas, separadas (deixe a cenoura ralada, o pepino fatiado, o alface lavado e seco).
- A carne da semana cozida. Sim, comer bife frito é maravilhoso, mas pelo menos já deixe temperado.
- Eu costumo temperar filés de frango e congelar individualmente, depois é só descongelar a quantidade exata.
- Possíveis lanchinhos separados em unidades. Pipoca, pode ser separada em porções de 50 gramas, bolo fatiado e embalado para ser consumido uma fatia por dia.
- Pequenas porções de frutas secas.
- Sopas diversas congeladas.
- Molhos de macarrão congelados em porções individuais (potes de requeijão servem uma porção de molho).
E a ideia aqui não é abolir a ida aos restaurantes e passar a comer somente dentro de casa. Ao invés de comer fora ser uma rotina, utilize essa prática como um presente por alguma conquista. Planeje suas idas a restaurantes.
Sim, faça uma lista de locais que deseja comer e uma vez por semana coma sem culpa. Aposto que frequentar um restaurante que queremos de forma planejada, vai trazer muito mais satisfação do que sair comendo em tudo que é lugar a todo o momento.
Comer fora deve ser a exceção e não a regra. A sua cozinha em casa é a regra e é nela que você vai nutrir o seu corpo de forma saudável para o seu bolso.
3 – Moradia
Morar longe ou perto do trabalho? Essa é a pergunta de muitos milhões de reais. Muitas pessoas adorariam morar tão perto do trabalho que chegariam a pé nele. Esse tema deve ser pensado de forma um pouco além das finanças.
Eu que trabalho de forma remota na minha casa posso dizer com autoridade que não existe coisa mais gratificante do que morar perto do trabalho. A sua vida dá um salto em qualidade de vida e isso não tem preço.
No entanto, mesmo trabalhando em casa não é nada prático morar num bairro remoto e distante da civilização. Onde tudo que você precisa fazer é de carro e o transporte público é escasso.
Quando morei com a minha mãe na extrema zona leste de São Paulo e enxerguei a oportunidade de economizar no aluguel e poupar muito mais do que eu pouparia morando de aluguel.
Mas logo essa conta deixou de fazer sentido quando tudo o que eu podia fazer no bairro era ficar em casa olhando meus investimentos, sem nada ao arredor para fazer e até para ir ao banco eu precisava pegar um ônibus e ficar uma hora dentro. Rapidamente me senti isolada do mundo.
Minha terapeuta me fez enxergar que eu estava fazendo o cálculo errado. O quanto eu estava perdendo ao deixar de viver? O quanto eu estava perdendo ao me privar de fazer atividades paralelas ao trabalho?
Essa conta nunca fazemos, mas aposto que se você tivesse quase 40 e fosse solteira como eu, ficaria deveras preocupado. Eu chegaria aos 40 milionária e sem amigos, sem ninguém. Parecia um cenário muito triste.
Mesmo que você não trabalhe em casa como eu, mas gaste boa parte do seu dia em deslocamentos, quanto disso tudo vale realmente a pena? Entende que a conta não é somente financeira?
Em 2017 eu morava numa casa próxima ao metrô e com farta oferta de transporte público pagando pouco mais de R$450,00 de aluguel. Minha irmã comentou na época que um barraco na favela de Heliópolis custava R$500,00 o aluguel, esse era o preço que seu cunhado pagava para viver na favela.
Tenho certeza que eu chegava rapidamente a muitos serviços básicos morando onde eu estava, o que prova que o aluguel não precisa ser o mais caro para termos mais qualidade de vida.
Meu pai deixou de morar num bairro de classe média alta, onde o transporte público é escasso e as coisas ao redor são bem mais caras, para morar no centro e próximo ao metrô, que é um ambiente bem mais urbano, econômico e próximo de todos os serviços básicos que precisamos.
Foi somente quando eu percebi que morar bem é um tipo de investimento é que passei a enxergar com outros olhos a questão do aluguel. Quando você mora bem, a sua vida vai bem. E isso não tem muito a ver com luxo e grandeza. Conseguimos morar bem com bem menos do que pensamos precisar.
Conclusão
A forma como vivemos hoje pode influenciar e muito as nossas finanças. Não é cortando aquele cafezinho diário que vai te deixar milionário, mas são as alterações no seu estilo de vida que vai fazer a diferença.
Quando as aparências deixam de importar, muita coisa começa a fazer sentido para você.
Morar bem é como exercer a sua cidadania. Você tem muitos direitos, mas também deve reconhecer os seus deveres. E isso inclui viver um vida plena de saúde física e mental.
Caso more longe de tudo, observe quanto tempo gasta com deslocamentos, o que faria com esse tempo? Quanto você realmente economiza morando onde mora? Está feliz com sua vizinhança? Quão distante é do seu trabalho? Qual o tamanho da sua casa?
Quanto do seu orçamento é para manter suas saídas para comer fora? A sua saúde melhorou com esse hábito?
Aprenda a gostar de cuidar de você mesmo. De planejar a sua semana no âmbito pessoal também, pois são pequenas ações que constroem o seu futuro. Viver uma vida plena requer muito menos dinheiro do que se imagina.