Meu Primeiro Ano Como Empreendedora Solo: Vitórias e Fracassos

um sofá azul com a frase Meu Primeiro Ano Como Empreendedora

Hoje é dia de conversarmos sobre como podemos aproveitar situações aparentemente negativas para dar um salto em nossa jornada e alcançarmos sonhos que estão, de certa forma, engavetados, mas antes eu vou contar como foi a minha história e como eu fiz uma limonada com os limões que eu ganhei de presente da vida.

Eu me tornei empreendedora totalmente por acaso. Nunca foi uma atividade planejada.

Eu sabia que não me encaixava no mundo corporativo e não sabia muito bem o motivo. Ansiava por uma mudança radical de vida, mas não sabia bem o quê.

Foi somente levando um pé na bunda que esse chute me impulsionou para frente…

…ao invés de cair, eu voei.

Sim, minhas caras, usei uma demissão sem justa causa para recomeçar do meu jeito.

A princípio eu achei que seria muito fácil e simples. Tracei metas audaciosas para me reerguer em pouco mais de seis meses. Mas não foi bem isso o que aconteceu.

Eu já vivia uma vida muito frugal, reduzindo assim os meus custos fixos. No entanto, mesmo tendo uma vida simples, sem a entrada de uma renda sólida as reservas podem diminuir com o tempo.

Houve momentos em que sofri uma enorme ansiedade. O meu maior pesadelo não era ficar sem dinheiro e falida, mas ter de voltar a procurar um emprego CLT.

Muitas pessoas concordam que o primeiro ano de um empreendedor é o mais difícil. E enquanto eu educadamente concordo, não posso deixar de me perguntar: “O que poderia mudar no segundo ano? E no terceiro? Para ser sincera, nem tenho certeza se me sinto muito mais confiante.

Obviamente, sempre haverão incógnitas, e isso nunca mudará. Dito isto, olhando para trás, aprendi muito sobre mim mesma, criei minhas próprias regras, percebi novos valores e agarrei oportunidades nunca antes imaginadas na vida.

Olhando para trás, gosto de enxergar essas experiência como parte da minha história. E como toda a história, existem acertos e erros, perdas e ganhos. Eis aqui um balanço das minhas vitórias e fracassos do primeiro ano:

 

Vitórias

Vitória # 1: Ganhar mais dinheiro do que no meu antigo emprego.

Cansada de ser paga muito abaixo do que eu merecia, eu confesso que realmente pensava em ganhar mais do que meus empregos anteriores. Claro que isso não era uma meta de curto prazo.

A minha ideia como empreendedora solo era poder sobreviver, apesar de tudo. Quando começamos é muito difícil olhar para um futuro muito mais distante que o próximo mês.

Ter uma renda variável, da noite para o dia, requer um controle emocional um pouco mais resistente da nossa parte. Mas eu estava curiosa para saber qual o montante eu poderia ganhar trabalhando por conta.

Uma condição que me favoreceu durante o início, foi saber exatamente quanto eu poderia gastar para sobreviver sem ter uma vida de total privação.

Nos primeiros seis meses eu morava sozinha pagando aluguel e os meus gastos eram basicamente: aluguel, utilidades da casa (internet, luz, etc), supermercado, terapia e dentista.

Já no segundo semestre eu reduzi essa conta um pouco mais, abrindo mão da terapia e do aluguel.

Outro ponto que me favoreceu no primeiro semestre foi eu ter investido toda a minha multa rescisória e o meu FGTS oriundos do último trabalho CLT, vivendo apenas do meu seguro desemprego.

Isso me deu liberdade para compor as minhas primeiras receitas como empreendedora sem a pressão de ter que fazer dinheiro logo no primeiro mês.

Viver uma vida mais simples não era uma farsa para mim, eu não estava infeliz. Quando olho para trás sinto uma nostalgia gostosa do tempo que eu tinha muito tempo livre. Eu amei cada momento. Eu me sentia o tempo todo muito privilegiada de poder estar em casa, de estar começando algo que eu acreditava.

Era muito satisfatório poder fazer atividades durante o dia, atividades estas que eu deixava somente para os finais de semana.

Ao final do primeiro ano, bem no final mesmo (leia-se dezembro): eu fechei o meu ano com ganhos pelo menos duas vezes maiores do que eu ganhava no emprego anterior.

 

Vitória # 2: Aprender a trabalhar em diferentes projetos

Sendo uma pessoa curiosa e que se cansa com algumas coisas rapidamente, trabalhar com projetos diferentes me permitiu experimentar realidades diferentes.

O meu primeiro grande projeto como empreendedora criativa foi como escritora fantasma.

E se não fosse as circunstâncias daquele momento, eu jamais teria me imaginado concorrendo para realizar esse tipo de trabalho. E foi uma experiência incrível.

Eu fui contratada para escrever seis livros em formato e-book. Não existia um prazo de entrega e como não me dou bem com trabalho sob pressão, achei o projeto ideal.

Escrevi com rigor. Cada livro tinha pouco mais de cem páginas e no finalzinho do projeto eu estava escrevendo entre 7 e 8 horas por dia numa média de um livro por semana.

Quero dizer que não sou escritora e nunca tive formação para tal. E depois disso nunca mais tive um projeto semelhante. A memória permanece fresca e lembro desse trabalho com carinho.

Soube então de projetos que para fazer parte eu precisaria fazer uma prova e o critério de seleção era totalmente meritocrático. Ou seja, bastava passar na prova. Eu estava inebriada. Não precisaria jamais fazer jogos políticos, gostar das mesmas coisas que chefes e colegas.

Eu só precisaria ser eu mesma, passar na prova e fazer o trabalho. Parecia muito perfeito, e garanto que é.

Eu comecei a entender que para compor a minha renda não poderia ter um único cliente. Seria burrice replicar o modelo celetista de única renda na minha vida.

“Um empreendedor precisa ter várias fontes de renda, pois se uma secar, ainda terá outras para sobreviver.” Ciça Reis

O meu primeiro ano começou com projetos com prazos determinados, pequenos e sazonais, e terminou com clientes com prazos totalmente indeterminados. Eu estava encontrando a receita do sucesso naquele momento: ter vários clientes com contratos de longo prazo.

Em setembro, ao conversar com um possível cliente ele me perguntou: por quanto tempo você gostaria de trabalhar conosco? ao que eu respondi: por muito tempo, se possível; ao que ele me respondeu de volta: a média de tempo de nossos parceiros é dois anos, mas temos muitos que estão há mais de cinco.

E foi assim que eu comecei a enxergar a vida um pouco mais além do que o próximo mês.

 

Vitória # 3: Criando um sistema sólido de orçamento e desenvolvendo resiliência.

Depois de passar muito tempo da minha vida vivendo somente para pagar contas e sem me preocupar em poupar (às vezes até usando o cheque especial), percebi que como empreendedora eu precisaria levar a vida adulta um pouco mais a sério.

Eu nunca fiz dívidas grandes e o máximo que já devi no cheque especial foi dois mil reais. Outro grande vilão da minha vida sempre foi o cartão de crédito. Por muito tempo eu pagava faturas mensais de pouco mais de mil reais.

Cheguei a ter extrato fobia (medo de conferir extrato) e quando o fiz percebi que 80% da fatura era de pequenos gastos como padaria e comer fora.

Organizar essa bagunça requeria medidas urgentes. Eu aproveitei o meu primeiro ano como empreendedora para liquidar possíveis dívidas de cartão e cheque especial e cancelei o meu cartão de crédito, ficando apenas com a função débito. Foi uma maneira que encontrei de começar a pagar tudo à vista.

Como comentei acima, minha meta não era virar uma super investidora, mas sobreviver e tentar não zerar a minha reserva de emergência tão rápido. O mais bacana de ser empreendedor é que descobrimos ter uma força que antes pensávamos que não tínhamos.

O segundo semestre exigiu de mim uma resiliência que nem eu sabia que existia. Receber mais nãos do que sim e ver a renda flutuar para baixo definitivamente não é uma tarefa fácil. Permanecer na terapia era tão importante quando comer.

Posso dizer que somente vivendo as quatro estações de um ano é que sabemos identificar exatamente o que cada uma significa, e um ano completo na vida do empreendedor nos permite reconhecer quais são os meses de altos e baixos. É saber que tudo vai ficar bem, mas pode piorar muito antes de melhorar.

Eu sobrevivi ao primeiro ano com uma renda não estável e, acredite se quiser, com um terço da minha rescisão que eu havia investido no início do ano, sem perder completamente a sanidade. Todos os nãos que eu recebi ao longo do ano, me deram motivos para eu buscar por mais sims.

 

Vitória #4: Poder fazer o que quiser no contra-fluxo

Sem dúvida uma das maiores vitórias de se trabalhar em casa é safar-se do trânsito e tudo o que nele envolve: ônibus lotados, levantar muito cedo, atrasos, dias chuvosos, etc. Seu eu fosse uma pessoa noturna poderia trabalhar durante a noite e dormir até o meio dia, se quisesse.

Tive satisfações imensas ao poder caminhar por volta das dez da manhã próximo de casa. Fazer compras no supermercado na parte da tarde ou final da manhã.

Marcar terapia às duas da tarde de uma quinta-feira ou até mesmo o dentista às 11 da manhã e não precisar pedir atestado de horas, do dia ou provar para ninguém que eu estava ali cuidando de mim.

Escolher o horário que não tem ninguém para ir ao cinema, numa exposição ou até mesmo fazer compras. Isso não tem preço algum. Muitas vezes eu me esquecia até que dia da semana era.

Essa liberdade de tempo e espaço na vida de um empreendedor é o que muitas pessoas sonham. As pessoas que tem família mais ainda.

 

Fracassos

Fracasso #1: Não gastar tempo suficiente em projetos pessoais

Ah, a eterna luta persiste. Parte da razão pela qual eu decidi ser freelancer era ganhar mais tempo para minhas coisas criativas. Eu queria acordar e fazer exatamente o que eu queria.

Estava cansada de fazer o que tinha de fazer. Estava na hora de assumir a direção do meu barco e concentrar no melhor que eu poderia ser.

Bem, essa era uma noção idealizada que desapareceu em vários momentos.

Por que isso? Bem, o dinheiro é um grande motivador mas ao mesmo tempo um grande limitador. Dito isto, nos momentos em que eu tinha uma calmaria, eu estava tão ansiosa em encontrar trabalho que não me permitia apenas relaxar e trabalhar em outras coisas (não remuneradas).

É preciso saber administrar esse sentimento de culpa por não estar fazendo nada. Herdei essa ânsia de sempre querer estar ocupada e não consigo me livrar desse costume tão fácil.

Eu me cobrei muito querendo levantar às seis da manhã todos os dias (quê?) mesmo trabalhando em casa. Quando dormia até às nove ficava com sensação de ter perdido tempo.

Em todo caso, eu não considero isso como um total fracasso, já que no meu primeiro ano eu realmente fiz muitas coisas diferentes e aleatórias que não necessariamente trouxeram renda.

 

Fracasso # 2: Não ter um contato com outras pessoas

Ao mesmo tempo que eu sempre gostei muito de ser focada e fazer o meu trabalho sozinha, foi somente trabalhando em casa que eu percebi o quando eu sinto falta de contato humano e do quanto eu gosto de me relacionar com as pessoas.

Perceber isso foi como me conhecer melhor. Talvez o meu desagrado de ter que me relacionar com pessoas num trabalho CLT se deu porque essas pessoas nada tinham a ver comigo ou com o meu perfil.

Mas em casa eu me vi isolada e sozinha. Muitas vezes me senti presa sem ninguém para conversar pessoalmente.

Criar uma comunidade virtual é legal, mas eu descobri o quanto é difícil as pessoas virtuais tornarem-se reais. Aquela conversa de “vamos marcar qualquer dia” é um jeito educado de dizer que não deseja marcar coisa alguma.

Que cada um fique no seu quadrado, pronto.

As pessoas que têm emprego formal são as mais difíceis de fazer uma conexão, pois essas pessoas já têm um convívio social básico no trabalho, para quê se envolver com gente nada a ver? Como uma pessoa que trabalha em casa?

Eu também descobri que a expressão network existe somente nos artigos do LinkedIn. As pessoas falam o tempo todo sobre isso, mas não curtem fazer atividades com outras pessoas sem interesse profissional.

De longe esse foi o tema mais discutido nas minhas terapias. Aliás o meu terapeuta era a pessoa que eu mais via pessoalmente, além claro do cara da padaria onde eu comia pizza de balcão sozinha.

 

Fracasso #3: Ver o mundo desabar e querer cair dentro do vulcão

Ter de lidar com uma renda variável é uma situação que muitas pessoas, mas muitas mesmo, tentam evitar.

As pessoas gostam de conforto, de saber o quanto vão ganhar todo mês e a partir dali fazer planos futuros baseado nessa renda. Tanto é verdade que ser funcionário público ainda é o sonho de muita gente.

Na minha casa, meus pais e duas irmãs (somos em quatro) são funcionários públicos. Minha mãe tentou por muito tempo me evangelizar para trabalhar no governo.

Eu aprendi rápido que a responsabilidade por ter uma renda para sobreviver e alcançar metas maiores na minha vida era totalmente minha. Essa constatação foi um alívio mas também uma súbita preocupação rotineira.

Por volta do meio do ano de 2017 eu comecei a não dormir por conta de dinheiro. A calculadora era o aplicativo mais utilizado no meu celular. Dormia fazendo contas, discutia abertamente valores da luz, da água e do supermercado com o meu terapeuta.

Essa preocupação cresceu de tal forma que eu quase não aguentei a pressão. Obviamente isso atrapalhou o meu rendimento.

Não que eu fosse ficar na rua da amargura. Jamais. Mas eu tinha muito medo de ter que voltar ao mercado de trabalho e procurar emprego.

Foi preciso dar um passo para trás para poder voltar a andar para frente de novo. Em julho eu voltei a morar com a minha mãe.

Eu me mudei para um bairro que eu não gostava, deixando de fazer coisas que eu curtia e aprendi a gostar para poder me recuperar financeiramente e continuar a viver como empreendedora.

Reduzir a pressão foi uma decisão acertada, pois eu consegui me reerguer rapidamente e a minha mãe nunca precisou financiar nada para mim. Exceto ceder a casa dela sem cobrar aluguel e me dar alguns meses de carência para poder contribuir nas contas da casa.

 

Conclusão

Ser empreendedor é o sonho de muitas pessoas. Mais do que isso, ser o dono da própria vida e fazer o que quer na hora que se quer é sim o pote de ouro que fica do outro lado do arco-íris.

Mas como tudo na vida, existem prós e contras. Certa vez eu ouvi de alguém (não me lembro quem, mas se foi você que está lendo me avise por favor) que trabalhar com o que se ama é igual colocar a música favorita como despertador.

Eu aprendi a gostar dos meus trabalhos por mais que eles não fossem o que eu imaginava que fossem. Mas eram esses trabalhos que me permitiam trabalhar de casa e me sustentar.

O primeiro ano me mostrou que empreender não é uma jornada fácil, mas que exige um pouco mais de força de vontade que o normal. É preciso querer muito e sair da zona de conforto com mais frequência que a média popular.

Também tomei consciência da necessidade de contato. Relações são cruciais não porque precisamos de trabalho, mas porque precisamos compartilhar e interagir com humanos.

Quando alguém que trabalha em casa convida outro para um café, é só isso que se quer…

…tomar um café e papear.

E mesmo que essa tenha sido uma jornada eventual e fruto do acaso, pretendo continuar com ela pelo próximo ano.

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